segunda-feira, 26 de julho de 2010

Entrevista com Walter Pall

Quase me mijei nas calças quando recebi a resposta do email com as perguntas respondidas, fiquei muito feliz em saber que mesmo diante de uma vida corrida, um bonsaista desse gabarito, ainda teve tempo para me daratenção. Walter Pall é um bonsaista que despensa apresentações, vem fazendo um trabalho diferenciado na Europa, mostrando ao mundo novos conceitos e visões sobre o bonsai. Bueno, vamos as perguntas!

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Sr. Pall, é uma pergunta bem trivial e curiosa para nós, me desculpe se parece tola mas, conte-nos um pouco de sua história no bonsai. Seu inicio foi difícil e você teve quem lhe indicasse o caminho correto?
Pall: No início dos anos 80, não havia professores na Europa. Eu fui um dos pioneiros que foram para as montanhas para conseguir material e os viveiros. Eu sou totalmente autodidata e nunca tive um workshop na minha vida para me guiar. Enfim, foi muito difícil e demorou 30 anos. Hoje, esse trajeto deve levar cinco anos para um novato para chegar lá.

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Ainda possui suas primeiras plantas? Teria como mostrar algumas fotos?
Pall: Não, eu não tenho mais as minhas primeiras árvores . Não é sempre admitido, mas a maioria dos bonsai novos morrem. E também a qualidade não é absolutamente suficiente para meus padrões atuais. Eu mudei o meu "melhor" 'bonsai pelo menos quatro vezes. O que era bom em 1990 hoje considerado é obsoleto.

Conte-nos um pouco sobre o espaço que você mantém suas plantas.
Pall: Eu tenho cerca de 1000 árvores no meu jardim. A abundância de imagens estão na minha galeria http://walter-pall.de/emy_garden.jpg.dir/index.html

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Sua bandeira do naturalistic tem agradado muitas pessoas e ajudado numa visão diferente em plantas nativas de várias localidades e auxiliado a “fugir” da utilização total das regras tradicionais japonesas, mas até que ponto isso é válido? Crê que o ideal seria uma mistura harmônica das duas escolas?
Pall: É uma mistura de ambas as escolas, de fato. Se fosse realmente um bonsai natural seria chamado de "Natural Bonsai Style '. Mas ele é chamado de "Naturalistc Bonsai Style' porque só aparece natural.

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Você poderia dizer quais características são mais visíveis para identificar num bonsai um naturalistic bem executado?
Pall: Se as pessoas pensam que a árvore foi encontrada assim na natureza. Você não vê as marcas dos homens. Você não vê que a forma é feita pelo homem. Você acredita que a natureza fez tudo isso.


Sr. Pall, eu gostaria de saber se você acha que o naturalistic se enquadra em uma nova escola ou uma linha de pensamento, um estilo próprio?
Pall: Creio que existem vários estilos que estão presentes em paralelo: clássica japonesa, penjing, japonês moderno, moderno estilo ocidental clássica, o estilo naturalista, estilo escultural, estilo Bunjun etc. Eu tenho que salientar que, em algumas situações uso várias visões diferentes. Nem todos os meus bonsai são naturalistas.

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Ainda na questão do naturalistic, muitas pessoas, principalmente aqui no Brasil, tem uma visão distorcida dessa escola, pensando ser menos trabalhoso aplicar-la do que as normas comuns, o que você acha disso?
Pall: É claramente mais difícil criar um bom bonsai naturalista do que um clássico.

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Você é conhecido por sua sinceridade e objetividade, eu particularmente aprecio isso, mas há pessoas que não encaram isso muito bem, isso afeta de alguma forma seu relacionamento com elas?
Pall: Na minha cultura um homem tem que dizer o que pensa. A diplomacia é uma forma de mentir. Ser honesto é mais do que importante do ser popular.


Como um grande coletor de plantas, você prioriza quais características para coletar-las?
Pall: Só faço a coleta se eu estiver de acordo com o grande potencial da planta. Levei 30 anos para ver claramente o potencial em uma fração de segundo

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Para termos uma idéia, qual a média de tempo que você leva para dar uma forma em um bonsai coletado?
Pall: Cinco a dez anos de trabalho bem feito em uma árvore pode ser bom o suficiente para mostrar, mas com algumas árvores é preciso de vinte anos.

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Você também utiliza de misho e plantas compradas?
Pall: Eu não uso o metodo de misho, às vezes eu compro algumas plantas e muitas vezes as troco.

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Sabemos que é muito variável o composto do substrato e dos adubos usados, se puder, poderia contar como compõe esses dois?
Pall: Qualquer substrato moderno é bom, podes fazer o solo de várias formas: dividir lava-pomes, zeolito, barro cozido, pedras de isopor e similares.
Fertilizantes: Tudo o que está à venda nos centros de jardim de plantas normais. Química a cada duas semanas durante o período de vegetação e duas vezes por ano, orgânica, principalmente esterco de galinha.

Como você vê a relação interpessoal entre os bonsaistas europeus?
Pall: O meu relacionamento é bom.

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Seus workshops são famosos pelo mundo todo, por sua qualidade e meticulosidade dos trabalhos e seu reconhecimento como bonsaista é magistral , isso as vezes o deixa surpreso?
Pall: Bem, às vezes sou surpreendido por minha reputação. Eu não faço as coisas para a minha reputação. Eu tento fazer as coisas direito e a reputação é uma conseqüência secundária.

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Em alguns artigos seus, vejo que tens inovado em questões de plantas, técnicas e materiais usadas para o cultivo e tratamento do bonsai, como tem sido essas experimentações ?
Pall: Desde trinta anos que eu estou tentando encontrar coisas novas e novos métodos de bonsai. A conseqüência é que eu encontrei algumas coisas úteis.

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Você visitou o Brasil em 2008, o que achou do trabalho que tem sido feito aqui?
Pall: Fiquei muito satisfeito com o entusiasmo. Foi interessante ver que a maioria das pessoas trabalham com as árvores muito pequenas. Esta seria uma minoria em outras partes do mundo. Eu achava não encontraria bonsai tradicional no Brasil, pensava que tivessem um modo revolucionário de se fazer bonsai.

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Para mais informações e para apreciar uma invididade de fotos sobre o trabalho de Mr. Pall, visite http://walter-pall.de/ !
Saludos!

5 comentários:

Rodrigo Sousa disse...

Viva Guilherme.

Que Blog magnifico,estive a ler quase todos os "posts" e para além de partilhar as refleções que fazes,quase na integra,está extremamente interessante e dá visão de varias "facetas" da "esfera" Bonsai.

Magnifico,muita sorte e continuação deste Blog por muito tempo..

Um abraço desde Portugal
Rodrigo Sousa

Ps. Não conhecia o teu Blog,foi atraves da Web de Walter Pall que felismente vim aqui parar.Por isso é que deixei o comentário neste Post.

Unknown disse...

Gui....
Esta entrevista está ótima meu chapa.
O "Cara" não tem rodeios...vai direto ao assunto.
Legal isto e, na minha visão, é chato aquele tipo de bonsaista que fica escondendo o jogo e fazendo reserva de mercado. Sabe, parece fugir um pouco da filosofia da arte.
Penso que quando a pessoa é boa no que faz e é segura de si, não precisa ficar fazendo a "brincadeira" de esconde-esconde, para ver quem se dá melhor.
Vamos construir uma história legal de uma associação do Vale dos Sinos...com uma idéia nova, qual seja, de divulgar conhecimento (ponto).
Grande abraço Eduardo de Canoas.

EDUARDO MINSSEN disse...

Guilherme:
Parabéns pelo blog e pela entrevista com o Walter.
Eduardo Minssen, Cachoeira do Sul.

Bonsai Portão disse...

Cara, tive conhecimento desse blog agora no ultimo encontro em Lomba Grande. Bá fiquei bem contente de poder ver uma entrevista desse gabarito no blog. Sorte amigo, parabéns.

Bonsai Shizen BH disse...

Ola.
Eu assisti uma palestra do Walter Pall aqui em Bh e ele nos mostrou as fazes do bonsai no decorrer dos tempos.
Eu perdi minhas anotações e preciso saber se vc tem conhecimento desse processo de evolução do bonsai ?
Se tiver me passa por favor.
Obrigado
Ladoso